Abelissauro é o t-rex brasileiro. Às vezes, autistanto!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nos passos do Passinho

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Uma garotada que dança e encanta. Ontem galera que só dançava nos bailes, hoje galera responsável por um estilo de arte, mídia, grupo e ideias. Um dia o que fora o corredor polonês nas quebradas dos anos 90, hoje tornou-se a linha que separa bondes que desafiam uns aos outros: a batalha do passinho. No geral, clima de festa e competição bem-vinda, pois o que era pancada ficou para trás.

Quase domínio masculino, o processo de troca de informações e extensão dos bailes nas redes sociais fazem com que o quadro mude rapidamente agregando a presença feminina nas rodas informais e competições reais. De modo semelhante, mudanças qualitativas como esta não são observadas com a mesma velocidades nos estratos médios, por exemplo.

Os gays então! Acompanhando a produção do filme 'Favela Gay' da mesma linha '5x Favela' uma observação importante é que na ausência de serviços especializados em segmentos de público, como é comum na classe média em diante - leia-se boate gay, boate hetero, boate deus nos acuda - o pessoal dos subúrbios, favelas e arrabaldes tendem a ter espaços comuns de convivência e diversão, logo numa certa 'convivência forçada' os grupos tornam-se mesclados e a participação dos LGBTs nos bondes deixa de ser uma novidade.

Como dizem por aí: quando não temos nada para compartilhar de material o que resta é o afeto. Imaginemos tal máxima aplicada a jovens pobres! A amizade entre os grupos agrega normalmente muita gente e o conteúdo homoerótico delas é mais esclarecido, afinal de contas, o que há a perder? Num baile, por exemplo, lembro muito mais das ideias de um sexólogo como Kinsey, ou da meinha de todos, que de uma orientação hermética em sentido A ou B. Vejamos, não se trata da negação da orientação sexual, mas não como uma afirmação de cunho biológico.

Obviamente o preconceito existe e uma não profunda etnografia nas redes sociais dá conta de revelar as fraturas e dilemas, mas alguns bondes têm assumido posição de maior destaque entre os bailarinos, alguns deles já tendo até dançado em outros estados e no exterior, e esses também vêm assumindo o lugar da referência. Taxam o preconceito como inútil e dão grandes mostras de fraternidade, respeitando a orientação de cada um.

Quando o assunto é mídia o passinho recheia o mundo digital com memes, videoclipes, vídeos experimentais, aulas em vídeo, ou seja, uma troca incessante de informações e conteúdos diversos. Não há copyright e o direito a que todos dancem e se aprimorem está garantido na liberdade do compartilhamento. Mesmo que Michael Jackson, Caboclo de Lança, Maracatu, Mangue beat, Train Soul e o charme não constem nos créditos e haja ainda muito a impressão do self-made, a tendência aponta para a significação pela coletividade e para a coletividade.

No campo estético também ousam e vão além do tradicional masculino x feminino. Meninos são vaidosos e gostam de brilho e novos adereços. E os cabelos, ah os cabelos, verdadeiros Carmens Miranda! Basta passar por um orkontro em Madureira para notar. Já as meninas são ainda uma incógnita, pois o repertório possível sempre foi maior e parecem não absorver o guarda-roupa masculino como uma iniciativa à la Yves Saint-Laurent com seu 'le smoking', mas de pronto estão ou continuam na contramão das evangélicas que aparentam cada dia mais terem parado nos 9 anos!

E não se assuste se um coleguinha 'Tyco Dancing Perfect Bonde CBT Mister Maridão' tiver 3000 amigos no Facebook! É assim mesmo, afinal os populares somos muitos no Brasil! Assim, constituem também uma rede poderosa de formação de opinião, que, contudo, está devidamente limitada pelo pequeno repertório cultural demonstrado pela maioria, reflexo da educação formal capenga. Nesse sentido, a linguagem não nos deixa mentir. Mesmo acreditando numa língua viva e moldável, no geral o notado é a baixa capacidade de instrumentalização dela por seu escasso domínio. E essa é uma mensagem que os grupos em destaque ainda não absorveram: o valor do estímulo à educação e à participação cidadã!

Observação que de modo algum deprecia a imagem e arte da galera envolvida no passinho, ainda mais que estamos apenas no início de uma longa caminhada que poderia ser chamada de visibilidade dos pobres e por hora fica minha gratidão pelo muito que aprendo desde que venho acompanhando o passinho e sua galera há mais ou menos um ano. Nomes como Cebolinha, JJ, Camila, Bolinho e tantos outros ficam como o registro dos informantes informais, grandes pessoas e que merecem o aplauso geral pela incrível renovação proposta no funk do Rio de Janeiro.

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