Abelissauro é o t-rex brasileiro. Às vezes, autistanto!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Desculpem o transtorno, estamos transformando o Brasil

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Sob forte pressão dos protestos populares que tomaram as ruas do Brasil, algumas cidades baixaram o valor do reajuste das passagens do transporte coletivo. Na maioria delas o valor revisto é menor em R$ 0,10 centavos e Pelotas (RS) segue na dianteira com R$ 0,15. Obviamente a motivação popular têm outras origens que não só o descontentamento com o valor dos transportes e a baixa qualidade do serviço prestado pelas concessionárias. No bojo da insatisfação os serviços públicos como um todo, os gastos exorbitantes com a Copa e políticos incompetentes e corruptos encheram o saco de geral!

Daí que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), anunciou na terça-feira (18/06) cogitar a possibilidade de redução das passagens junto à convocação do Conselho da Cidade. Afirmou também que esta é uma decisão a ser tomada pela coletividade, afinal implicaria no aumento de subsídios: seja através de reajuste do IPTU ou de criação de um novo imposto municipal sobre a gasolina nas bombas.

Pois bem, anda faltando uma coisa! Normalmente o que temos assistido são esforços públicos no sentido da desoneração, como a promovida pelo governo Dilma sobre o transporte público, ou subsídios estaduais e municipais. Mas, do outro lado, empresas continuam operando dentro dos mesmos esquemas de exploração predatória de serviços públicos com metas de lucratividade sempre maiores. Lucro, aliás, mais elevado que a taxa média praticada nas economias centrais. E, em geral, reina o silêncio seletivo sobre o tema.

Em São Paulo o lucro médio auferido por ônibus é de cerca de R$ 15 mil, com preços das passagens reajustados acima do IPCA. No Rio de Janeiro o secretário estadual de Transportes é normalmente nome sabatinado pelas concessionárias. Verdadeiras máfias, como é bem sabido, operam sempre no financiamento de campanhas como as contas do governador Sergio Cabral (PMDB) comprovam ou de legisladores estaduais quando relatórios de fiscalização sobre transporte público são aprovados em tempo recorde e sem grandes contestações. Isso para não dizer da situação de câmaras municipais!

A insatisfação também recai sobre a incapacidade do Poder Público de fiscalizar as concessões feitas, ou os serviços em geral. São redes de televisão que agem como partido, telefônicas que não oferecem os serviços acordados em contrato, planos de saúde que negam atendimento, transportes mais caros e piores, empreiteiras acordadas em cartel para concorrência em licitações e mais uma lista que poderia ser cansativa. Porém uma coisa os une, pois são partes da iniciativa privada financiadora ou apoiadora das campanhas eleitorais pelo país.

Já clássico da civilização brasileira, a falta de clareza nos limites entre público e privado fez com que a situação tenha chegado ao limite do insuportável, afinal de contas iniciativa privada e iniciativa pública têm caráter distinto uma da outra, mas não excludentes entre si. Portanto, para a plena prestação de serviços públicos de qualidade e ação fiscalizadora eficaz do Estado é preciso apartar a promiscuidade proposta pelo modelo de financiamento misto vigente, mas que é eminentemente privado, da atividade política. Além do que, no contexto de capitalismo dependente e subdesenvolvido, a atividade do setor privado tem se reafirmado como componente estrutural do atraso brasileiro, ao contrário de impulsionar o desenvolvimento fomentado pela ação pública.

No capítulo “o modelo autocrático-burguês” de “A Revolução Burguesa” de Florestan Fernandes o autor afirma: “para libertar-se do capitalismo dependente e subdesenvolvido a burguesia brasileira precisaria livrar-se, com a maior urgência, do atual padrão de dominação burguesa e de solidariedade de classe”. Porém, “como, enfim, o capitalismo dependente e subdesenvolvido constitui uma criação de burguesias que não podem fazer outra coisa além de usar os imensos recursos materiais, institucionais e humanos com que contam e a própria civilização posta à sua disposição pelo capitalismo para manter a revolução nacional nos estreitos limites de seus interesses e valores de classe. Elas contêm, ou sufocam, por esta razão, as impulsões societárias tão conhecidas ao igualitarismo, ao reformismo e ao nacionalismo exaltado de tipo burguês, expurgando-as, por meios pacíficos ou violentos, da ordem social competitiva. Ao mesmo tempo, fomentam e exaltam outras impulsões societárias de tipo burguês, igualmente bem conhecidas, ao racionalismo acumulador e expropriativo, ao egoísmo, ao exclusivismo e ao despotismo de classe, conferindo-lhes, por meios pacíficos ou violentos, predominância na elaboração histórica da ordem social competitiva. Elas se tornam, em suma, os agentes humanos que constroem, perpetuam e transformam o capitalismo dependente e subdesenvolvido, levando a modernização para a periferia e adaptando a dominação burguesa às funções que ela deve preencher para que a transformação capitalista não só possa reproduzir-se em condições muito especiais, mas, ainda, tenha potencialidades estruturais e dinâmicas para absorver e acompanhar os ritmos históricos das economias capitalistas centrais e hegemônicas.”

Como visto, o célebre Florestan Fernandes anotara que era preciso superar o atual, ou aquele, padrão de dominação burguesa e de solidariedade de classe o que, decididamente, permaneceu o mesmo, senão mais arraigado pós-neoliberalismo e pós-tomada do poder central pelo Partido dos Trabalhadores. Também não sei se posso dar apontamentos de como deveria se portar uma classe a qual não pertenço, mas afirmo que o pleno destrave e desenvolvimento das políticas públicas, hoje, só se fará se os mesmos interesses como estão dados forem eliminados enquanto estruturantes do processo eleitoral brasileiro através da Reforma Política.

Sobre o tema, de um lado, o mesmo PT vem encampando a luta pela Reforma através de campanha para o recolhimento de 1 milhão de assinaturas reivindicando o financiamento exclusivo de campanha, votos em listas pré-ordenadas, etc. De outro lado, partidos e associações de classe que agem no sentido de manter o status quo e entre polos as manifestações, que legítimas no todo, falta nas partes, pois não incorpora, por exemplo, de maneira massiva entre corações, mentes e cartazes a Reforma Política.


E, mais uma vez, somente através da definição de novos marcos que situem com objetividade a separação entre público e privado é que teremos melhor capacidade de superar o atraso inscrito no capitalismo dependente e subdesenvolvido, dando pleno desenvolvimento às políticas públicas e alcançando as determinações constitucionais de universalidade e igualdade. Assim, para além da belíssima participação popular que tomou as ruas do país culminando na já histórica imagem do povo sobre o Congresso Nacional, teremos as condições concretas de transformar o Brasil do slogan: “desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil”. 

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